Fotografia Fine Art: A Composição Sagrada a Serviço da Criação Artística
A fotografia artística, antes de tudo, é uma expressão de como o fotógrafo vê o mundo ao seu redor. Na fotografia artística, é importante não o que a câmera vê e captura, mas o que o artista vê e quer mostrar.
Para o fotógrafo de arte, uma câmera é uma ferramenta para criar uma obra de arte. Nesse caso, a câmera atua como meio de revelar a intenção artística do fotógrafo, e não como uma ferramenta para documentar o que caiu no escopo da lente.
Para mim as fotografias fine art são o resultado de uma construção visual onde os elementos fotográficos e o simbolismo alquímico se entrelaçam. A imagem é um laboratório de experimentação onde os elementos, texturas e conceitos se tornam narrativas visuais únicas.
A partir dos elementos fotografados, as personagens encarnam a complexidade da psique humana e se inserem em cenários meticulosamente construídos, para suportar significados profundos, explorando temas como a alquimia, a transformação e a busca constante pela iluminação.
Através da técnica da fotomontagem, as imagens ganham vida, revelando a riqueza simbólica de cada elemento. Objetos cotidianos são reinterpretados e reinseridos, adquirindo novos significados e convidando o espectador a uma jornada de múltiplas interpretações.
Cada fotografia é fruto de uma mística alquímica pessoal, onde a intuição e a técnica se fundem para dar origem a obras que almejam transcender a mera representação da realidade. É um convite à reflexão, à decodificação de símbolos e à construção de novas narrativas.
Aqui a fotografia não é obra apenas de uma câmera, nem tampouco a resultante única do ato de fotografar.
No Brasil o termo FINE ART é mais comumente associado à impressão fineart, e não necessariamente contempla os elementos descritos de arte fotográfica, muitas vezes parecendo excluir o conceito de conteúdo de arte fotográfica, alinhando muito mais o conceito à presença do uso de papéis especiais.
Aqui não é é o caso. Aqui Fine Art é a própria Fotografia Artística Criativa.
O uso desse termo no Brasil é relativamente recente e começou a ser utilizado quando algumas empresas começaram a comercializar impressoras jato de tinta que utilizavam tinta pigmentada para conseguir a maior qualidade e durabilidade possível na impressão fotográfica.
Essa era a chamada “Impressão Fine Art” e chamou atenção dos artistas de linguagens tradicionais como a pintura e o desenho pois fabricantes conhecidos de papéis artísticos como Hahnemühle e Canson começaram a produzir papéis especiais para esse tipo de impressão.
Nesse caso, produtores de arte tradicional como pintura, gravura, desenho poderiam igualmente se aventurar na produção de cópias nestes papéis especiais.
Você pode imprimir qualquer foto numa impressão fine art, mas nem por isso a foto será uma fotografia fine art.
A fotografia fine art é produzida a partir das inquietações e reflexões do fotógrafo, por isso não pode fazer sentido apenas por elementos estéticos ou circunstanciais. Não se escolhe a obra por mero acaso. Ela precisa fazer algum sentido para seu criador.
O objeto único deste tipo de obra fotográfica é traduzir ou dar vazão à visão de mundo do artista, trazendo para a dimensão da realidade o desenho de universos visualizados internamente. Como consequência direta, não há garantias que a foto será vendida depois, ou que vai gerar renda para o artista.
A atividade de criar fotografia fine art é um meio de expressão artística como qualquer outro e pode se tornar, por sua vez, fonte de reflexão para outros artistas ou pessoas com as mesmas inquietações.
A arte se torna um meio de redenção e de alcance de um nível de consciência mais aprofundado de nossa sociedade, o que só é possível através do uso de linguagens capazes de abarcar o conteúdo de difícil transcrição que precisa ser vazado para a realidade.
Aqui nós vivenciamos e trabalhamos a criação de arte como terapia profunda para descobrir motivações pessoais e identificar bloqueios e traumas. O processo de criação se traduzirá na jornada pessoal de crescimento e redenção que só a expansão da consciência, neste caso proporcionada pela arte, pode gerar.
Fotografia Fine Art | Processo de criação
Para funcionar, precisamos estabelecer um projeto partindo de uma ideia, mas não basta querer fazer uma obra comercialmente bela, apenas para enfeitar um ambiente ou atender a um apelo comercial. Os verdadeiros artistas não criam apenas para impressionar, mas porque precisam usar uma linguagem única para comunicar elementos que só podem ser percebidos desta forma. O objetivo do artista é atingido quando consegue provocar um nível específico de reflexão por trás do que chama a atenção em seu trabalho.
Quando penso num bom motivo para se criar fine art hoje, não me ocorre melhor entendimento do que aquele que traz de volta as características do Renascimento. Nessa época o trabalho passou a ser entendido como parte do Homem e a ordenação criativa passou a estar estritamente ligada à natureza humana. Acreditava-se que através do trabalho o homem seria capaz de transformar o seu meio e alcançar a elevação/ iluminação. Havia, por assim dizer, uma conexão perfeita entre o sentido de valor e o que era produzido pela maestria e o talento das mãos humanas. Como médica do trabalho, ainda hoje compreendo que o valor do que pode ser criado pela intervenção humana se sustenta necessariamente através da realização do trabalho.
Com o passar do tempo a concepção integralista do trabalho foi sendo fragmentada, tornando muitos de nós meros “apertadores de parafusos”, responsáveis por uma pequena fração da atividade completa. Se antes se levava uma hora inteira para produzir um objeto completo, agora leva-se um tempo infinito para repetir a produção de um pequeno pedaço do mesmo objeto. Não conhecemos mais o começo-meio-fim de nosso trabalho e temos que nos contentar em fazer parte de uma engrenagem produtiva que nos torna alienados, tristes e nos impede de vislumbrar os frutos de nossas criações no âmbito do cotidiano.
Eu acredito com todo meu coração que a arte e a reflexão filosófica devem obrigatoriamente fazer parte da formação de cada pessoa, mas não apenas no que tange a atuar como observador passivo daquilo já foi feito. Cada pessoa tem o direito (e porque não também o dever) de desenvolver em si as “dores da criação”, pois somente assim poderá entender o significado intrínseco daquilo que já foi criado e fazer associações importantes com seu próprio processo de desenvolvimento, conhecendo desta forma seu lugar e sua missão no mundo.
Para mim a criação de Fotografia fine art não é um fim em si mesmo, mas um meio importante de mediação para o autoconhecimento e a catarse individual.
Hoje, mais do que nunca em qualquer outro momento da história, precisamos lutar arduamente para nos manter integrados à nossa essência interior. O trabalho alienado — e aqui não importa se estamos falando da linha de produção ou do sistema de metas corporativas inatingíveis — é a principal causa de adoecimento mental entre adultos ocupados e uma das causas indiretas de nos manterem desde a infância com educação restrita. Afinal, só interessa a nós mesmos o crescimento interior como seres humanos integrais